O jornal americano New York Times publicou no mês de dezembro em seu site oficial, que o Brasil iniciou o que ambientalistas esperam ser “um grande passo para a concretização da visão de Chico Mendes”: diminuir a poluição e o desmatamento. Depois de vinte anos da morte do seringueiro e ativista ambiental brasileiro, Francisco Alves Mendes, 44, morto a tiros no estado do Acre, por fazendeiros que eram contra seu esforço de salvar a floresta amazônica, o governo do presidente Luis Inácio Lula da Silva introduziu, de acordo com palavras do diário, “ambiciosas metas de redução para o desmatamento e emissões de dióxido de carbono, em um país que é um dos maiores emissores mundiais desse gás do efeito estufa”.
O plano, o qual o jornal cita, é o de que o Brasil se tornará um participante influente nas discussões globais sobre mudanças climáticas, pressionando os Estados Unidos e a União Europeia a chegar a um acordo sobre a redução das emissões e a impedir os efeitos adversos da mudança climática. O que os ambientalistas questionam, no entanto, é se um país como o Brasil, que tem atingido níveis mínimos, teria condições de reduzir até 2017 até 20% do desmatamento, principal atividade responsável pela emissão de dióxido de carbono na camada de ozônio. O questionamento dos ambientalistas é o seguinte: Não é certeza de que “um país que mostrou poucos sinais de ajustar seu modelo de desenvolvimento como um grande provedor de alimentos para o mundo, especialmente em meio a uma crise econômica global”.
A redução de 20% no desmatamento significa em números poupar 10.300 quilômetros quadrados de florestas brasileiras. “Essa seria a menor quantidade anual já registrada no Brasil”, disse Paulo Adario, diretor da campanha amazônica do Greenpeace no Brasil. O que deixa dúvidas para os ambientalistas é a centralização da economia brasileira na exportação de produtos agrícolas, como soja e carne bovina, e commodities, como minério de ferro. “O modelo brasileiro é de fornecer alimentos para o mundo e de ser um grande fornecedor de etanol,” disse Adario. “A economia continuará se movendo na mesma direção. Não existe mágica no Brasil”, desacreditou.
A reportagem também citou que escolhas econômicas do país causaram grande impacto na Amazônia. Entre elas, o texto cita o estímulo do governo militar das décadas de 60 e 70 para que famílias sem-terra começassem a ocupar a região. Com isso, afirma, cresceram “a construção de estradas, especuladores de terras e fazendeiros que vieram em seguida, e as florestas foram derrubadas a um ritmo assustador”.
Chico Mendes e irmã Dorothy Stang
“A vida de Chico Mendes significou um esforço que reflete hoje mais de 20 reservas ambientais que foram criadas na Amazônia legal, o que protege mais de 3,2 milhões de hectares”, sublinha ainda a reportagem. A luta de Chico Mendes era para que os povos da floresta vivessem a partir de recursos sustentáveis na floresta, em vez do benefício pontual de cortar árvores. Como exemplo, o uso da borracha natural retirada dos seringais. Os assassinatos de Mendes e da irmã Dorothy, uma freira católica de 73 anos que foi baleada em 2005 por se pronunciar abertamente contra o desmatamento na Amazônia, aumentaram a pressão internacional para que o Brasil encontre maneiras de limitar a derrubada de florestas sem sacrificar o desenvolvimento.
Carlos Minc afirmou: “O Brasil sempre esteve na defensiva quando o assunto era a mudança climática, e agora está completamente mudado, aprovando um plano mais ousado que o da Índia ou da China”. Minc explicou que 75% das emissões brasileiras provêm do desmatamento. E que o plano do país reduziria em 4,3 bilhões de toneladas métricas até 2018.
Alguns ambientalistas sustentam que acordos envolvendo compensação pela proteção da floresta poderiam enfraquecer os acordos climáticos de muitas formas. Eles também argumentam que o plano deixa as metas mais difíceis ao governo sucessor de Lula cujo mandato termina no fim do próximo ano.
Ainda assim, o plano é visto por alguns cientistas e especialistas em clima como um importante avanço. “Pela primeira vez, nós temos, abertamente, metas bastante claras de redução do desmatamento,” disse o climatologista do Banco Mundial e responsável pela América Latina, Walter Vergara.
Fúlvio Costa
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